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Não existem mudanças sem avanços e recuos. Na verdade, quer uns quer os outros, fazem parte de todo o processo em si.

Os avanços são geralmente bem acolhidos, porque sentimos que aprendemos algo ou entendemos que já somos capazes de compreender ou receber uma nova perspectiva sobre nós ou o mundo à nossa volta.

Já os recuos são vistos quase sempre como recaídas e fazem-nos muitas vezes achar erradamente que não estamos certos ou não somos capazes de levar a cabo determinada mudança.

A verdade é que não existem mudanças sem recaídas.

Isto é, as recaídas fazem parte integrante do processo de mudar comportamentos ou atitudes na nossa vida.

O importante não é tanto recairmos, porque isso é normal, mas antes percebermos o que devemos fazer de cada vez que recaímos.

Todas as recaídas acontecem porque na verdade ainda não mudámos a ideia que temos sobre aquilo que queremos deixar para trás. Os nossos pensamentos estão viciados em determinada definição e só com mudanças de atitudes eles vão poder mudar mais facilmente essa ideia antiga que têm das coisas.

A nossa educação é a nossa primeira “tabuada”. Desde que nascemos que os nossos pais ou tutores nos ensinaram a ver o mundo a partir dos seus olhos. A sua visão torna-se a nossa visão, mesmo que não concordemos nem entendamos aquilo que estamos a escutar e “decorar”. Os mecanismos de adopção dos comportamentos parentais funcionam como um vírus que se alastra pela simples audição de palavras e ideias preconcebidas, e pela visualização de comportamentos. Mudar mais tarde estes padrões é das tarefas mais difíceis e demoradas com que nos vamos deparar.

Algumas pessoas nunca as contestam, apenas porque acreditam nelas e na sua sorte fadada ao mantê-las. Qualquer desvio é visto quase como uma profanação dos laços familiares e um colocar em causa os valores e princípios que herdaram dos seus pais ou tutores. Para elas, a má sorte, o sofrimento, a frustração, a dor, são uma parte natural de quem são.

Outras pessoas, em diferentes idades, começam a pôr em causa os valores e princípios sobre os quais têm vindo a fundear os alicerces da sua vida. Este processo acontece normalmente devido a uma insatisfação pessoal e a uma vontade de procurar caminhos diferentes e mais adequados à remoção dessa mesma insatisfação.

Para estas pessoas, que procuram e abraçam a mudança, é fundamental que entendam que as recaídas são naturais e acontecem num número bastante grande para cada mudança.

No entanto, o importante a reter em cada recaída, para que ela não nos faça desistir da mudança, é que resultam apenas de uma repetição de pensamentos sobre um determinado comportamento. Todas as mudanças implicam uma nova forma de pensar. Depois de tanto tempo a comportarmo-nos de acordo com determinados pensamentos, é sempre muito difícil mudá-los de um dia para o outro. Aquilo que devemos fazer é reiniciar o processo de mudança dos pensamentos a cada recaída, dar-lhes a nova direcção que pretendemos e fazê-los coincidir com a mudança que desejamos.

Devemos entender que o mecanismo de repetição dos pensamentos e comportamentos é muito forte, mas não é eterno. Não desistir é a solução, mesmo que tal decisão implique muitas vezes perdermos momentaneamente a força, a motivação e a crença em nós mesmos. Quando tal acontece, devemos descansar um pouco até voltarmos a sentir-nos suficientemente fortes para voltar a abordar a mudança.

A recaída é antes de mais um sinal de que estamos a querer mudar algo que nos perturba ou condiciona. Logo, já estamos a mudar. As vezes que vamos recair depende do tempo e ritmo que precisamos para mudar. O importante é entendermos isso e nunca desistir. A perseverança vence o hábito. Em breve, estaremos a recair cada vez menos e a mudança estará a produzir os efeitos próprios a ela e a nós mesmos.

José Micard Teixeira